quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Infalibilidade Papal

Infalibilidade Papal
O Papa Pio IX queria ser considerado como "Infalível".
Convocou, em 1870 um concílio, o Concílio Vaticano I, para
"discutir" a sua ideia. Não houve uma discussão arrazoada  nem
mesmo pelas bases da Tradição da Igreja. O que houve foi uma
Imposição à base de truculenta intimidação. Nascia assim o
Dogma da Infalibilidade Papal
Prólogo
O que é a Infalibilidade Papal? Como ela veio a fazer parte dos ensinamentos da Igreja
O periódico jesuíta La Civiltá Cattolica disse que é "O Dogma de que depende o triunfo do Catolicismo sobre o racionalismo.’ sobre o que foi promulgado, em 1870, pelo Concílio Vaticano I. Mas o que é "dogma"?
Na linguagem teológica católica, “dogma” refere-se a doutrinas que têm “valor absoluto e são inquestionáveis”.  De maneira que a definição exata da infalibilidade papal, segundo a Igreja Católica, é esta:
É um dogma divinamente revelado que o pontífice romano, quando fala 'ex cathedra', isto é, quando atua no cargo de pastor e instrutor de todos os cristãos, ele define, em virtude de sua suprema autoridade apostólica, uma doutrina a respeito da fé ou da moral a ser aceita pela igreja universal, possui, por meio da assistência divina que lhe foi prometida na pessoa do bendito Pedro, a infalibilidade com a qual o divino Redentor dotou sua igreja, em definir a doutrina a respeito da fé e da moral; e que tais definições do pontífice romano são, por conseguinte, irreformáveis em si mesmas, e não por causa do consentimento da igreja."


1ª Parte
Nasce o Dogma

La Civilta Cattolica (esquerda) é uma publicação católica que existe desde 1850 e publica o que se desenrola no clero Papal. Sem reservas procura, em seus relatos, ser o mais fiel possível à verdade. É desta publicação que foi retirada a história do Dogma da Infalibilidade Papal.

Definição Imprecisa
Esta definição, que muitas pessoas têm dificuldade de entender, é também imprecisa de acordo com a própria Igreja.
Por exemplo, o teólogo alemão, já falecido, August Bernhard Hasler mencionou a “imprecisão” e “indeterminação” da expressão "ex cathedra", dizendo que “quase nunca se pode dizer quais as decisões que devem ser consideradas infalíveis”. Outro teólogo, Heinrich Fries, diz que esta determinação é “ambígua”. Até Joseph Ratzinger, o Papa aposentado, admitiu (quando ainda não era Papa) que o assunto tinha dado origem a uma “controvérsia complicada”. Naturalmente, Ratzinger, apesar de se aproveitar dela, desaprovava essa definição e não falou nela enquanto durou o seu papado.

Hasler, que escreveu em 1980, o livro Como o Papa era Infalível (foto à esquerda) sustentava que “a imprecisão dos conceitos” permite tanto uma aplicação extensiva do dogma, a fim de ampliar o poder do papa, como uma interpretação mais limitada, de modo que a pessoa, quando confrontada com ensinos errados do passado, sempre possa apoiar a afirmação de que estes não eram parte do chamado “magistério” infalível. Em outras palavras, é uma situação em que “se der cara eu ganho, se der coroa você perde”. Assim, quando um Papa toma uma "decisão infalível" que depois se mostra errada, pode-se dizer que "na verdade, ela não era produto do dogma", sem prejuízo para o Papa. Isso parece honesto?
Mesmo assim, se persiste na definição da “Infalibilidade” que diz que o papa, embora cometa erros como todos os demais humanos, não erra quando define questões de fé e de moral "ex cathedra", atuando no cargo de pastor da Igreja Católica Romana. Isso gerou muitos problemas dentro da Igreja.  mas como foi que esse conceito nasceu?

Baixaria no Concílio
Esse conceito, de que um Papa é infalível nasceu na mentalidade turbulenta e megalomaníaca do Papa Pio  IX, que convocou um concílio para discuti-la. Houve debates muito acalorados entre os bispos e os cardeais durante o Concílio Vaticano I (foto à esquerda) de 1870. La Civiltà Cattolica daquele ano mencionou a “agitação ardente”, apontando que nem mesmo os jesuítas anteciparam que “haveria tais contrastes, em face de uma verdade tão sagrada”.
Ferdinand Gregorovius, historiador alemão, escreveu que houve “sessões tempestuosas” do concílio. A realizada em 22 de março de 1870, por exemplo, foi especialmente tumultuada. O Bispo Josip Juraj Strossmajer, um dos muitos bispos presentes no concílio opostos ao dogma da infalibilidade, foi silenciado pelos clamores dos bispos que eram a favor do dogma. Os registros do concílio informam que, quando Strossmajer falava, tais bispos protestaram “em altos brados” e ‘berravam’: “Chutai-o daí!”, e: “Desce! Desce!” Os altos prelados católicos estavam se comportando como escandalosos torcedores em jogo de futebol. Outros bispos, devido à essa pressão violenta, resolveram, por precaução "mudar de lado".

Papa Truculento
Outros historiadores têm mostrado que o Papa e a Cúria romana exerceram fortes pressões sobre os membros do concílio para conseguir a aprovação desse dogma. A respeito disto, o historiador católico Roger Aubert, em seu livro "Doutrina Social Católica" (foto à esquerda), edição de 2002, fala de uma “disputa” que Pio IX teve com o Cardeal Guidi, de Bolonha, cujo discurso perante o concílio não foi do agrado do Papa. Num acesso de ira, Pio IX alegadamente disse ao cardeal, que, em seu discurso em defesa da Tradição, era contra o dogma: “Eu sou a tradição!”
Esse Papa truculento queria que tal doutrina fosse aprovada "de qualquer maneira": “Estou tão decidido a ir adiante”, disse ele, “que se eu achasse que o Concílio queria silêncio, eu o dissolveria, e a definiria por mim mesmo”. Uma vez conseguida a maioria para a aprovação, admitiu La Civiltà Cattolica: “As manobras da maioria do concílio e também do Papa Pio IX, e as limitações e dificuldades impostas à minoria, não mais devem ser minimizadas nem justificadas com desculpas.”
De maneira que o dogma da infalibilidade papal não foi uma questão da Igreja - que não a queria - mas sim da simples vontade de um Papa que se colocava acima da Igreja e da Tradição.

Igreja Rachada.
Esse "concílio" chamado Vaticano I  - que mais pareceu uma reunião de gente brava intimidando pessoas dispostas a ceder por medo - não conciliou ninguém. Pelo contrário, afastou a muitos. O dogma da infalibilidade dividiu ainda mais a Igreja.
Um compêndio de história resume os eventos, dizendo: “Os núncios [embaixadores] papais intimidaram os bispos para serem a favor dum decreto de infalibilidade papal.” No entanto, tais “manobras” não tiveram êxito em acalmar as ondas de dissensão — somente serviram para torná-las ainda mais agitadas. Após esse virulento concílio, parte dos clérigos dissidentes se separaram da Igreja Católica. O movimento dos “Velhos Católicos”, cuja história encontra-se no livro "O Movimento dos Velhos Católicos", do Rev. C.B.Moss,  formou-se desse cisma, e ainda é ativo na Áustria, na Alemanha e na Suíça.
O irônico é que esses prelados católicos, que formaram os "Velhos Católicos" foram justamente aqueles que quiseram "defender a milenar Tradição da Igreja" contra a imposição da ambição de um único homem.




2ª Parte
Não tem Base Bíblica

A Igreja Católica diz que o dogma da infalibilidade papal, apesar de só ser proposta (na verdade, conforme vimos, imposta) em 1870, está intimamente ligada "ao primado", ou aos apóstolos. Existe tal "ligação"?
Não. Não há um único texto na Bíblia que indique que os apóstolos foram "infalíveis" ou mesmo que Pedro tenha sido infalível. Não foram  infalíveis nem mesmo em assuntos doutrinais ou espirituais, conforme se diz do dogma da infalibilidade papal. Assim, essa alegada "ligação" só pode vir de interpretações. Quais são os textos que os católicos interpretam como sendo apoiadores do dogma?
A Enciclopedia Cattolica responde: “os textos da Bíblia que estabelecem o primado dão testemunho da infalibilidade do pontífice”. Daí cita os seguintes versículos, em que Cristo está falando a Pedro.

Mateus 16:18:Tu és Pedro e sobre esta pedra construirei minha Igreja.”

Lucas 22:32: “Mas eu roguei por ti, para tua fé não desfalecer; e tu, uma vez convertido, confirma os irmãos.”

João 21:15-17: “Apascenta meus cordeiros.” “Apascenta minhas ovelhas.” “Apascenta minhas ovelhas.” — Bíblia Vozes, católica.

Falam tais textos em "infalibilidade" por parte de Pedro? Não. Ao contrário, tais textos contém indícios de conselhos à Pedro, uma vez que este poderia estar fraquejando, mais que os outros, na fé. De maneira que um leitor sincero da Bíblia, ao se deparar com estes textos dificilmente os atribui à alegada "infalibilidade", a menos que esta esteja sendo forçada para se entender dessa forma.
Mesmo assim, segundo a Igreja Católica, os versículos supracitados deviam demonstrar: primeiro, que Pedro era o “príncipe dos apóstolos”, isto é, que detinha o primado entre eles; segundo, que "ele era infalível"; e, terceiro, que ele teria “sucessores” que partilhariam de suas prerrogativas, o primado e a infalibilidade.

Neste respeito, contudo, Giuseppe Alberigo, preletor sobre história eclesiástica, tece os seguintes comentários significativos: “Como se sabe, no NT [Novo Testamento], o termo ‘papa’, ou a substantivação relativa ‘papado’, jamais ocorre. A única figura dominante é Jesus de Nazaré; entre os discípulos, e especialmente entre os apóstolos, é muito problemático reconhecer-se, à base dos textos, uma figura que se destaque acima das demais. Pedro, João, Tiago, Paulo, constituem figuras igualmente características e significativas, diferentes umas das outras e complementares. Sem dúvida, Pedro é apresentado como um dos apóstolos com quem Cristo falou com mais frequência, embora não seja o único, nem o mais significativo.
Com efeito, um exame mais detalhado da convivência de Jesus com os apóstolos, indica que ele jamais pretendeu que Pedro, ou qualquer outro fosse "príncipe" no meio deles.

A Origem da Doutrina do Papado
Se não existia nenhum apóstolo superior ao outro como é que surgiu essa ideia?
O Professor Alberigo responde: “Nos primeiros séculos, não existe nenhuma elaboração doutrinal ou nenhum pragmatismo quanto à figura e as funções do papa. . . . A possibilidade de um ‘episcopus episcoporum’ [bispo dos bispos] foi uma aberração de Cipriano [escritor do terceiro século] (foto à esquerda), como ele afirmou no sínodo de Cartago.”
Quando foi que se arraigou a doutrina do papado? O Professor Alberigo diz: “Perto do fim do quarto século, a afirmação da igreja romana de possuir uma função apostólica, isto é, de coordenação das igrejas ocidentais, torna-se mais insistente.” Foi “durante o episcopado de Leão I [quinto século]”, acrescenta Alberigo, que se desenvolveu “o conceito do ‘principado’ de Pedro entre os apóstolos, baseado em Mt 16:18”. “No NT, não se encontram indicações da parte de Jesus a respeito de sucessores de Pedro, ou dos outros apóstolos.”
Mas, será que este texto bíblico indica que "Pedro é a pedra", conforme dizem os católicos? Não.


Quem Era A "Pedra"?
Tu és Pedro [grego, Pé·tros], e sobre esta pedra [grego, pé·trai] construirei minha Igreja.”  - Mateus 16:18Bíblia Vozes.
No que tange à Igreja Católica, que não examina os textos bíblicos dentro do contexto geral da Bíblia, a grande semelhança das palavras "Pedro" e "pedra" é indicativo que "Pedro é a pedra" de alicerce da verdadeira igreja, ou congregação cristã. Mas, uma vez que a Bíblia tem muito a dizer sobre a "pedra simbólica", é importante examinar outros versículos, a fim de obter um entendimento correto.
Alguns católicos, quando confrontados com as evidências de que Jesus, e não Pedro, é "a pedra", costumam deliberadamente reinterpretar o texto dizendo haver "duas pedras", uma "angular" e outra "de fundação". mas esse pensamento não é lógico. Nada há na Bíblia sobre 'duas pedras'. O fato da mesma pedra, as vezes ser chamada "de fundação" e as vezes de "angular" não indica que sejam duas. Assim essa reinterpretação mostra não ser honesta, uma vez que só é levantada depois do argumento de uma única pedra.

Importantes profecias das Escrituras Hebraicas  (conhecido como Antigo Testamento) já haviam anunciado a vinda duma simbólica pedra de alicerce e o duplo papel que ela desempenharia. Devia ser um instrumento de salvação para aqueles que exercessem fé "nela".
Por exemplo, Isaías 28:16 diz: “Eis que lanço por alicerce em Sião uma pedra, UMA PEDRA provada, ângulo precioso de um alicerce seguro. Ninguém que exercer fé ficará em pânico."
Paradoxalmente, deveria ser esta a "pedra" em que tropeçariam os israelitas descrentes, segundo Salmos 118:22:  “A PEDRA que os construtores rejeitaram tem-se tornado a principal do ângulo.”
Outro texto ainda profetiza: “Como pedra contra que se esbarra e como rocha em que se tropeça, para ambas as casas de Israel.” —Isaías 8:14.
Tais textos indicam que esta "pedra" que viria, não tropeçaria em nenhum momento, embora outros fossem tropeçar por causa dela.

Jesus É a Pedra.
Será que as profecias de Isaías e Salmos estavam se referindo à um simples homem, especialmente o impulsivo Pedro, desempenhar o papel da pedra simbólica? Ou tais palavras se referiam à Jesus?
Pedro foi um dos que "tropeçou" por causa da "pedra", conforme Mateus 26:33-35, 69-75. Marcos 14:34-42 mostra também que Pedro não foi capaz nem de se manter acordado diante de um momento crucial na vida de Jesus. De maneira que a "pedra" não poderia ser Pedro, segundo as profecias.
Em quem devemos exercer fé, a fim de obter salvação? Em Pedro ou em alguém maior do que ele? Em quem tropeçaram os israelitas, em Pedro ou em Jesus?
A Bíblia indica conforme vimos que, não só os israelitas tropeçaram por causa de Jesus, mas o próprio Pedro também tropeçou. Assim os israelitas não tropeçariam por causa de alguém que também tropeça como eles.
As Escrituras indicam claramente que as profecias a respeito daquela preciosa pedra se cumpriram, não em Pedro, mas no Filho de Deus, Jesus Cristo.
O próprio Jesus disse a respeito de si mesmo como a "pedra", quando estava falando aos fariseus como mostra Mateus 21:42-45. E o interessante é que a versão bíblica católica Ave Maria coloca como ligação o texto de Salmos mencionado acima, nas profecias  - que nela é Sl 117:22 - neste texto de Mateus.

Pedro Confirma Jesus, e não a Si Mesmo como "a Pedra"
Por fim, o próprio Pedro, como lemos em 1ª Pedro 2:4-8, considerava Jesus, e não a si mesmo, como a pedra de alicerce. Numa ocasião anterior, ao falar aos líderes religiosos judeus, ele confirmou que “Jesus Cristo, o nazareno”, era “a pedra que por vós, construtores, não foi levada em conta, que se tornou a principal do ângulo”. — Atos 4:10, 11.
O apóstolo Paulo tinha essa mesma ideia, como se pode deduzir de textos tais como Romanos 9:31-33 1 Coríntios 10:4 e Efésios 2:20, este último versículo confirmando que os membros da congregação cristã são “edificados sobre o alicerce dos apóstolos e profetas, ao passo que o próprio Cristo JESUS É A PEDRA angular de alicerce”. Ele também é ‘cabeça da congregação’, a qual ele guia desde os céus. “Estou convosco todos os dias, até a terminação do sistema de coisas”, disse Jesus. — Efésios 1:22; 5:23; Mateus 28:20; Colossenses 1:18.
Se é Jesus que guia a sua congregação desde os céus, ele não precisa de nenhum "príncipe" humano aqui na  Terra para fazer isso.


Continua


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