terça-feira, 9 de setembro de 2014

A Igreja e o Holocausto

A Igreja e o Holocausto
20 de julho de 1933. Pacelli, então colaborador do Papa Pio XI, assina a "Reichskonkordat", que unia
a Igreja Católica e o nazismo alemão em caráter oficial. Esse vergonhoso "acordo",
semelhante ao que Hitler assinaria mais tarde com Stalin, garantia entre outras coisas
que os católicos alemães apoiariam Hitler em tudo, inclusive na perseguição aos judeus.
Na foto, da esquerda para a direita vemos: O padre alemão Ludwig Kaas
o Vice-Chanceler Franz Von Papen, o Cardeal italiano Giuseppe Pizzardo, Pio XII, o 
Cardeal italiano Alfredo Ottaviani e o então Ministro do Interior alemão Rudolf Buttmann.


Prólogo
O holocausto foi, não só o genocídio de 6 milhões de  judeus durante a 2ª guerra mundial. Foi também o massacre em massa de milhões de pessoas, indiscriminadamente, totalizando redondos 15 milhões (20 milhões segundo certas fontes) somente nos mais de 20 mil campos de morte. Fora dos campos haviam também os mais de 1,5 milhão de mortos pelos Einsatzgruppen, comandos de caça e assassinato em massa não só de judeus mais de qualquer "opositor" ao regime nazista. Essa alegada  "oposição ao nazismo" era bizarra já que até bebês eram massacrados com essa justificativa. Ao todo, crê-se que mais de 30 milhões de pessoas tenham sido assassinadas dentro das fronteiras do III Reich entre 1933 e 1945.
O que tornou possível essa gigantesca empreitada? Foi o apoio - por vezes entusiástico - de todos os setores da sociedade alemã, inclusive o religioso. Com certeza milhões de pessoas trabalharam ativa ou indiretamente nesse morticínio e essas pessoas não eram alheias a religião. A Alemanha da época era um país essencialmente católico, mas também haviam as igrejas protestantes. 
Assim se pergunta: Como foi possível que as religiões do país não se opuseram à um projeto de monstruoso barbarismo em pleno Século XX?

Nos dias atuais esse assunto, longe de estar esgotado, suscita curiosidade. As vezes grupos se levantam com fortes evidências da participação ativa da Igreja Católica no morticínio. 1987 foi um desses anos críticos para a igreja. Como ela reagiu?
A Igreja Católica preparou um documento em que reconheceria sua responsabilidade no Holocausto. De modo que havia grande expectativa quando, em março de 1998, a Comissão do Vaticano para Relações Religiosas com os Judeus divulgou o documento intitulado Nós nos recordamos: uma reflexão sobre a Shoah. 
Tal documento seria um formal pedido de desculpas. Mas embora alguns tenham gostado do documento, muitos ficaram descontentes com seu conteúdo. Por quê?

Pedido de Desculpa ou Não?
O documento do Vaticano faz uma distinção entre anti-judaísmo, do qual a Igreja se declara culpada, e anti-semitismo, do qual ela se declara inocente. Muitos acham tanto essa distinção como a conclusão que se tira dela insatisfatórias. O rabino alemão Ignatz Bubis disse: “Para mim parece um modo de dizer: ‘Não foi nossa culpa; a culpa é de outro.’”
Embora o historiador católico italiano Giorgio Vecchio concorde com a distinção entre anti-judaísmo e anti-semitismo, ele indica que “o problema também é entender como o anti-judaísmo católico pode ter contribuído para o desenvolvimento do anti-semitismo”. 
É interessante que o jornal L’Osservatore Romano, jornal católico do Vaticano, de 22-23 de novembro de 1895, publicou uma carta que declarava: “Qualquer católico sincero é, em essência, anti-semita; e também os clérigos o são, por força da doutrina e ministério.”. 
De maneira que o documento "pedido de desculpa" era confuso. Como pode alguém ter sido anti-semita dentro do nazismo e ao mesmo tempo ser inocente na perseguição ao judeus?
Mas a parte do documento do Vaticano que provocou as maiores críticas, porém, não foi esta. Foi a defesa das ações de Pio XII, nomeado papa às vésperas da Segunda Guerra Mundial, em março de 1939. Ele havia servido como núncio (embaixador do papa) na Alemanha de 1917 a 1929. 


O Vergonhoso Silêncio de Pio XII 
O jurista italiano Francesco Margiotta Broglio não acha que o documento “ofereça elementos novos ou explicações sobre a amplamente debatida questão do chamado ‘silêncio’ do Papa Pio XII, sobre sua alegada afinidade com os alemães e sobre suas ações diplomáticas em relação ao regime nazista tanto antes como durante o papado”.
A maioria dos comentaristas concorda que, independentemente de como se encara o teor do documento We Remember, a questão sobre por que os líderes da Igreja Católica permaneceram em silêncio quanto ao genocídio nos campos de concentração nazistas “permanece em aberto”.
Segundo o historiador norte-americano George Mosse, quando escolheu o silêncio Pio XIIsalvou a Igreja, mas sacrificou sua mensagem moral. Ele se comportou como um chefe de Estado, não como um papa”. Observadores bem-informados do Vaticano acreditam que o que atrasou a divulgação do documento foi a dificuldade de abordar a relação de Pio XII com o Holocausto.
Sem dúvida até a Igreja reconhece, mesmo que indiretamente, que o silêncio foi, na verdade, um apoio.

Defesa Infundada
Alguns hoje defendem a fraca tese de que, ao silenciar-se "o Papa evitou mais destruição", pois caso protestasse, os nazistas poderiam destruir o Vaticano ou "perseguir os católicos". Até o papa Paulo VI, insistiu que “uma atitude de protesto e de condenação não só teria sido fútil, mas também prejudicial”. Tal tese porém constitui um duplo tiro no pé da Igreja. Primeiro porque atesta a falta de fé em Deus, sucumbida por medo à Hitler. Segundo porque o exército nazista era essencialmente católico. Eram católicos os que estavam perpetrando os massacres e, certamente uma palavra do Papa contra o crime traria, não "mais destruição", mas a diminuição do crime, pois os assassinos de orientação católica certamente dariam ouvidos ao seu líder religioso.
Assim a defesa que o documento faz do Papa Pio XII irritou a muitos. “É desapontador o silêncio desse documento em relação ao ‘silêncio do papa’”, escreveu Arrigo Levi. Elie Wiesel, ganhador do Prêmio Nobel da Paz, em 1986, disse: “Parece-me que afirmar que nós, judeus, devemos ser gratos a Pio XII é, no mínimo, heresia.” 

A Culpa é dos Outros Mesmo Sendo Nossa.
O confuso e irritante documento vai além. Também adota a distinção tradicional dos teólogos católicos, segundo a qual a Igreja como instituição é santa e mantida sem erro por Deus, ao passo que seus membros, que são pecadores, são culpados por quaisquer males perpetrados. 
A comissão do Vaticano escreveu: “Outros cristãos não demonstraram resistência espiritual e ações concretas que seriam de se esperar de seguidores de Cristo. . . . Não foram suficientemente fortes para erguer a voz em protesto. . . . Lamentamos profundamente os erros e as falhas desses filhos e filhas da Igreja.”
De maneira que, embora não admita o documento reconhece como "fraqueza" o silêncio do Papa Pio XII.
E também atribuir a culpa aos membros individuais da Igreja em vez de à Igreja, como instituição, representada por um Papa "fraco", pareceu para a maioria como um grande retrocesso, em comparação com outros pedidos explícitos de perdão. 
Por exemplo, a Igreja Católica Romana na França emitiu uma “Declaração de Arrependimento” formal, pedindo perdão a Deus e ao povo judeu pela “indiferença” que a Igreja Católica demonstrou para com a perseguição aos judeus sob o governo marcial da França, em Vichy. 
Numa declaração lida pelo arcebispo Olivier de Berranger, a Igreja admitiu ter permitido que seus próprios interesses “obscurecessem o dever bíblico de respeitar todo ser humano criado à imagem de Deus”.
A declaração francesa mencionava em parte: “A Igreja tem de reconhecer que, no que se refere à perseguição dos judeus e especialmente às diversas medidas anti-semíticas decretadas pelas autoridades de Vichy, houve muito mais indiferença do que indignação. A regra era o silêncio, e palavras a favor das vítimas, a exceção. . . . Hoje, confessamos que o silêncio foi um erro. Reconhecemos também que a Igreja da França falhou na sua missão de educadora da consciência das pessoas.”
Esse pedido de desculpas por parte da Igreja Católica Francesa foi reconhecido pelo Vaticano. Mas daí se pergunta: Como pode o Vaticano, que fez a mesmíssima coisa, se calando, reconhecer o erro da sua filial, a Igreja Católica Francesa, e não ter a mesma atitude?


O Fracasso Moral da Igreja
A controvérsia sobre o silêncio de Pio XII diante das atrocidades nazistas durante a Segunda Guerra Mundial persiste de forma intermitente já por décadas. 
Os críticos, em geral, afirmam que um protesto papal aos nazistas poderia ter salvo milhões de vidas. 
Mas, por que levantar esse assunto de novo? Não é apenas agitar uma questão morta? Não. O próprio Vaticano a mantém viva. Em face desse assunto, as autoridades até mesmo puseram de lado a política de esperar 50 anos para a publicação de documentos dos seus arquivos. 
A igreja tem que fazer algo com relação aos críticos, porque compreende que, a menos que as pessoas "entendam" o que aconteceu, eles, os críticos, possuem poderosíssimo argumento para ilustrar o fracasso moral da Igreja.
Assim, muitos membros sinceros da Igreja querem saber a resposta. Sabem que até mesmo o falecido Papa Paulo VI, defensor do silêncio papal e portanto também fracassado moralmente estava também envolvido nos assuntos, lá naquele tempo, como auxiliar íntimo de Pio XII. Assim, uma comissão jesuíta publicou documentos selecionados dos arquivos do Vaticano desde 1965. 
Um deles, intitulado “A Santa Sé e as Vítimas de Guerra”, saiu em abril de 1974. Fornece ele quaisquer novos vislumbres sobre essa questão? 


Uma Questão Mais Profunda 
O exército de assassinos nazistas era quase que totalmente católico. E o crime deles só foi possível graças ao fracasso de sua própria Igreja em doutriná-los contra esse tipo de ação.
Pois despachos noticiosos colocam na berlinda a evidência documental de que o Vaticano recebera muitas informações sobre as atrocidades nazistas desde que estas começaram. 
Muito mais significativo, porém, é outro item pouco notado. Mostra que um dos auxiliares em quem Pio XII muito confiava levantou uma questão que penetra muito mais a fundo do que a pergunta de por que o papa não falou abertamente contra os nazistas. O “MonsenhorDomenico Tardini (mais tarde um cardeal), segundo se relata, perguntou exasperado, naquela época:
Todo o mundo entende que a Santa Sé não pode fazer com que Hitler se comporte. Mas, que não consiga manter um sacerdote sob controle — quem pode entender isto?”
Se a igreja não conseguiu manter seus próprios sacerdotes - e a bem dizer, o próprio Papa - livre de culpa do crime nazista, como iria manter "comportado" o seu povo católico?
Mas o inútil debate quanto ao bem que a voz de Pio XII teria causado quase que obscureceu por completo esta questão muito mais fundamental. 


Os cristãos honestos se vêem obrigados a confrontar essa questão: Como poderiam as atrocidades nazistas vir sequer a ser cometidas em primeiro lugar, se não fosse a cooperação do povo católcio e de seus líderes espirituais? 
95% dos alemães naquele tempo eram religiosos. Ou eram católicos ou eram protestantes. Quase 32 milhões, mais de 40% da população, eram católicos, bem como quase toda a população dos aliados europeus da Alemanha, a Áustria e a Itália. 
Mesmo entre as temidas S.S, aqueles que perpetravam os assassinatos também em mulheres e crianças, quase 1/4 deles ainda eram "católicos praticantes" frequentadores das "missas de campo" em 1939, apesar das pressões da liderança das S.S, que, temendo o contraste instavam para que desistissem disso.
O próprio Pio XII expõe essa mesma questão numa carta particular, recentemente publicada, ao sacerdote que provocou o exaspero do “Mons.” Tardini. Como presidente, o sacerdote Josef Tiso dominava o protetorado nazista da Eslováquia durante toda a guerra (1939-45). Pio escreveu ao “Monsenhor” Tiso que ele esperava que o governo e o povo eslovacos, “quase que inteiramente católicos, jamais executassem a remoção à força de pessoas que pertenciam à raça judaica”. E o fato de que “tais medidas são executadas entre um povo de grandes tradições católicas, por um governo que declara que é seu seguidor e depositário”, o angustiava grandemente. — 7 de abril de 1943.

Mas, como podia haver qualquer forma de cooperação com o programa nazista de exterminação racial chegar sequer a ser considerado entre um povo que o próprio papa disse ser quase que inteiramente católico e de grandes tradições católicas'’?
Por certo, os ensinamentos morais da Igreja tornariam inimaginável que o “Mons.” Tiso e seu rebanho tivessem qualquer parte no genocídio! Todavia a História mostrou o contrário. 
De maneira que os membros de coração honesto da Igreja certamente desejam uma explicação de tal conduta, bem como a das outras chamadas nações “cristãs” envolvidas com os nazistas.
O próprio Cardeal Eugène Tisserant do Vaticano fornece uma razão, com a franqueza duma carta particular, a um amigo. 
Depois da queda da França em 1940, escreveu queixando-se ao Cardeal Suhard, de Paris, que “a ideologia fascista e o hitlerismo transformaram as consciências dos jovens, e os com menos de trinta e cinco anos dispõem-se a cometer qualquer crime para qualquer propósito ordenado por seu líder”. 
Mas, como poderiam estas consciências treinadas pela Igreja ser tão facilmente ‘transformadas’? Afinal de contas, Hitler só estava operando sobre elas por cerca de sete anos, ao passo que a Igreja estava treinando seu rebanho por quase 2 mil anos! 


O Covarde Silêncio Papal Foi Até Previsto
Por certo, o Papa Pio XII poderia ter feito algo quando os nazistas invadiram o "território tradicional" da Igreja — a consciência humana! Mas, lamenta o Cardeal Tisserant:
Desde o início de novembro [de 1939], tenho solicitado com persistência à Santa Sé que proclame uma encíclica sobre o dever do indivíduo de obedecer aos ditames da consciência, porque este é o ponto vital do cristianismo.”
No entanto, a história não revela nenhuma declaração papal durante a guerra sobre este “ponto vital do cristianismo”. Com efeito, Tisserant passou a fazer a melancólica previsão: “Receio que a história possa ter razão em repreender a Santa Sé por ter seguido uma política de conveniência para si mesma, e muito pouco além disso. Isto é extremamente triste.”
Sem dúvida, a covarde e medrosa “política” do cuidado diplomático do papa ao lidar com os nazistas deveras assegurou a “conveniência” da sobrevivência do Vaticano e da Igreja. O próprio Pio XII aconselhou os bispos alemães que “o perigo de represálias e pressões”, ou, algo pior ainda, exigiam “conter-se” em seus pronunciamentos “a fim de evitar maiores males. Este é um dos motivos”, escreveu ele, “para as limitações” que impôs às suas próprias declarações. — 30 de abril de 1943.
Esta explicação nos ajuda a entender por que Pio XII se conduziu tão cuidadosamente. Mas, deixa inexplicado o seguinte: Por que ministros, sacerdotes e seus rebanhos se dispuseram a testemunhar, cooperar, ou, na realidade, em cometer as atrocidades nazistas — quase que até o último deles? O que aconteceu com suas consciências? 


A Consciência Católica Submissa à Guerra.
A resposta tem de residir no treinamento recebido por tais consciências. 
Como um católico leal, por exemplo, deveria entender a carta pastoral do próprio Pio XII, de 8 de dezembro de 1939, chamada Asperis Commoti Anxietatibus, dirigida aos capelães nos vários exércitos das nações em guerra, mais de 500 deles servindo no exército de Hitler
Instou com os capelães de ambos os lados que tivessem confiança em seus respectivos bispos militares, considerando a guerra qual manifestação da vontade dum Pai celeste que sempre transforma o mal em bem, e, “como combatentes sob as bandeiras de seu país, lutem também pela Igreja”.
Esta contradição desconcertante é novamente demonstrada pelas cartas do papa aos bispos em ambos os lados. Numa carta de 6 de agosto de 1940 aos bispos germânicos, Pio XII expressou sua admiração pelos católicos que “leais até à morte, dão prova de sua disposição de partilhar os sacrifícios e sofrimentos dos outros Volksgenossen [co-alemães]”.
Apenas nove meses antes, o papa dirigira similar mensagem aos bispos franceses, aconselhando-os de que tinham direito de apoiar todas as medidas para defender seu país contra esses mesmos católicos alemães “leais”!  Os metropolitas da Igreja italiana receberam conselhos similares pouco antes de a Itália juntar-se à guerra contra os Aliados.
O Papa apoiava a guerra mortal entre os soldados católicos. Católicos alemães contra católicos franceses e vice-versa, desde que 'continuassem católicos'. Não é isso uma submissão católica aos governos políticos ao invés de serem submissos às Igrejas?
Assim, quando o chefe da Igreja realmente falou sobre assuntos relativos à consciência, como o fizeram quase todos os seus clérigos, ele aplaudiu as consciências daqueles que serviam ‘lealmente’ nas forças militares de qualquer tipo ou nação. Com efeito, quando o correspondente do Vaticano em Berlim do jornal oficial, L’Osservatore Romano, perguntou certa vez a Pio XII se protestaria contra o extermínio dos judeus, o papa lhe disse que “não poderia esquecer que milhões de católicos servem nos exércitos germânicos. Devo conduzi-los a conflitos de consciência?” 



Os Evangélicos Nazistas.
Foram os eclesiásticos protestantes menos responsáveis? Não. Note o que o Conselho Eclesiástico da Igreja Evangélica (Luterana) Alemã, o maior corpo protestante, telegrafou pessoalmente a Hitler, em 30 de junho de 1941:
Que o Deus Onipotente auxilie V. Ex.a e a nossa nação contra o inimigo duplo [Grã-Bretanha e a Rússia]. A vitória será nossa, e ganhá-la deve constituir o ponto principal em nossas aspirações e ações. . . . em todas as suas orações [a Igreja] está com V. Ex.a, e com nossos incomparáveis soldados que agora estão prestes a eliminar a raiz desta pestilência, mediante duros golpes.” 
Mas "inimigo duplo" também consistia de soldados protestantes. De maneira que, da mesma forma que os católicos, protestantes alemães guerrearam contra protestantes de outros países às instâncias de seus líderes religiosos. .
Certamente, inebriados com os repetitivos discursos de Hitler sobre a eliminação do judaísmo como a raiz dos males do mundo”, desde antes de sua posse ao poder, os protestantes também sabiam do que se estava tratando quando começasse o massacre.
Com a orientação de seus pastores, o que mais poderiam os rebanhos protestantes fazerem? Lamentavelmente o que fizeram fala por si.

Apoio Voluntário à Hitler
As igrejas protestantes, a exemplo da católica, apoiaram Hitler mesmo que este não as tenha chamado.
Hitler jactava-se zombeteiramente de que “os párocos . . . trairão seu Deus a nós. Trairão qualquer coisa a bem de seus miseráveis empreguinhos e rendas. . . . Por que devemos discutir? Engolirão qualquer coisa de modo a manter suas vantagens materiais.” (O governo de Hitler continuou a dar grandes subsídios estatais às principais igrejas durante toda a guerra)
Para sublinhar a realidade do que Hitler afirmava sobre as igrejas, a pessoa só precisa perguntar a si mesma: “Se eu fosse sincero membro duma igreja na Alemanha, na Áustria, ou na Itália (o que significaria não ter participação em genocídios e assassinatos), durante esse período, o que me teriam aconselhado meus líderes espirituais — e o que eu teria feito?” Suponhamos que dissesse: “Não teria servido a Hitler.” O que teria enfrentado, não da parte dos nazistas, mas de seus próprios líderes espirituais? 
Se as Igrejas, através de seus líderes estavam apoiando abertamente Hitler, como os seus fieis frequentadores comuns poderiam estarem contra ele?

Apenas 1 Entre  32 Milhões
Não importou quanto procurasse, o erudito e educador católico, Gordon Zahn, só conseguiu encontrar evidência documentada de um único dentre 32 milhões de católicos alemães que se recusou por motivo de consciência a servir nos exércitos de Hitler
Além dos eclesiásticos perseguidos por oposição política aos nazistas, ele encontrou um total de apenas sete pessoas, entre as inteiras populações da Alemanha e da Áustria, que por motivo de consciência se recusaram a fazer o juramento militar. Talvez fique imaginando por que foram tão poucos. 
Zahn responde que suas extensivas entrevistas com pessoas que conheciam estes homens produziram “garantia positiva, expressa por quase todo informante, de que qualquer católico que se decidisse a recusar o serviço militar não teria recebido nenhum apoio, fosse ele qual fosse, de seus líderes espirituais”. 
Ironicamente, aqueles poucos que deveras o recusaram, apegando-se a isso, eram realmente um embaraço, não para o estado, mas para seus “líderes espirituais”.

Juramento Nazista = Dever Cristão?
Como pode um fiel, católico ou protestante, ter se recusado a servir Hitler, se seus próprios líderes religiosos lhe diziam que isso era um "dever cristão"?
Por exemplo, ao solicitar clemência do tribunal nazista para um sacerdote que se recusara, o Arcebispo Konrad Groeber, de Freiburg, escreveu que o sacerdote era “um idealista que crescera cada vez mais distanciado da realidade. . . . que desejava ajudar seu Volk e sua Vaterland, mas que agia segundo premissas erradas”. A outros se negou a comunhão, por parte de capelães das prisões, por violarem seu “dever cristão” de fazer o juramento militar nazista.

Bispos Aconselham o Juramento  Nazista
O caso documentado dum camponês austríaco, Franz Jägerstätter, ilustra o que um membro duma igreja realmente enfrentava da parte de seus líderes espirituais. Jägerstätter foi finalmente encarcerado por sua posição, em Linz, Áustria, e mais tarde decapitado. 
O capelão católico da prisão escreve que ele “tentara deixar claro que ele tinha de ter em mente seu próprio bem-estar, e o de sua família, mesmo ao seguir seus ideais e princípios pessoais”. O capelão lamentou que “Ele parecia ter vindo a entender meu ponto e prometeu seguir minha recomendação e fazer o juramento [militar nazista]”.
Vinha este conselho dum nazista? Não — vinha dum sacerdote que permaneceu em boa posição por muito tempo depois da guerra! Mas, essa não era a única pressão da parte dos líderes espirituais. 
O bispo Fliesser, da mesma diocese de Linz, revela que ele, também “conhecera pessoalmente Jägerstätter”, e argumentara “em vão” que Jägerstätter não era responsável “pelas ações da autoridade civil [nazista]”. Disse o bispo que o caso dele era “um caso inteiramente excecional, um caso a ser mais admirado do que copiado”. O Bispo Fliesser escrevia a um sacerdote depois da guerra, explicando a sua recusa em permitir a publicação da história de Jägerstätter no jornal diocesano de Linz. A história poderia “criar confusão e perturbar consciências”, disse ele.
Assim, o Bispo Fliesser considerava o homem que seguira sua consciência como ‘caso excecional’ — e não devendo ser copiado. “Considero maiores heróis aqueles exemplares jovens católicos, seminaristas, sacerdotes, e chefes de famílias, que lutaram e morreram no cumprimento heróico do dever”, continuou. 
Até mesmo o advogado Feldmann, designado pelo tribunal nazista, usou este argumento na tentativa de fazer com que Jägerstätter transigisse, mencionando que os milhões de católicos, inclusive os clérigos, empenhavam-se no combate com consciência “limpa”. Por fim, recorda Feldmann, desafiou-o a citar um único caso em que um bispo de qualquer modo desencorajasse o serviço militar nazista. 
Ele não conhecia nenhum. 

A igreja FalhouEm face de tais fatos históricos, os cristãos refletivos têm de perguntar: Por que uma organização, com todos os recursos e tendo bem mais de mil anos para treinar as consciências dos fiéis só conseguiu produzir a evidência de um único católico alemão dentre 32 milhões (0,000003 por cento) cuja consciência não lhe permitiria lutar em favor dos nazistas? 
Não estavam os católicos e os protestantes que serviram a Hitler sob o mesmo “mandamento bíblico”? Alegadamente sim, estavam. Seus líderes espirituais conheciam a lei de Deus. Todavia, como disse Jesus:
Quão engenhosamente contornais o mandamento de Deus a fim de preservar vossas próprias tradições!” — Marcos 7:9, Versão bíblica Jerusalem Bible, católica.
A Igreja falhou. Não obedeceu o mandamento que ela própria prega e nem conseguiu que seu povo obedecesse.

Hoje, 70 anos após a terrível tragédia da Shoah, ou Holocausto, a Igreja Católica ainda não conseguiu se reconciliar com seu passado: um passado de ambiguidade e silêncio, para se dizer o mínimo.

A Igreja Continua a Mesma.
Imagina você que a igreja mudou com o tempo? Ela está mais apegada agora às normas cristãs, que antes?   Não. Ela não mudou. Ela continua transigindo de forma oficial, mesmo que as vezes tente "se desculpar" pelos erros do passado.
Pode observar por si mesmo, mediante o exposto nesse artigo, “quão engenhosamente” os hodiernos líderes religiosos ‘contornam o mandamento de Deus’ por examinar a New Catholic Encyclopedia sob o verbete “Pacifismo”. Ali, entre outras coisas, esta enciclopédia assevera: 
Nem existe qualquer contradição intrínseca entre uma guerra justa e a ordem de Cristo para que amemos nossos inimigos. Uma guerra justa expressa ódio ao mal, ao invés de ao malfeitor. . . . Os católicos certamente estão livres para formar sua própria opinião quanto a se as condições exigidas para a justificação são prováveis de ser satisfeitas em qualquer guerra futura . . .” — Ed. 1967, Vol. 10, p. 856.
Como é que este raciocínio ‘engenhoso’ é desenvolvido na prática? 
Bem, quantas guerras pode encontrar na história, envolvendo populações católicas ou protestantes — por qualquer causa — que deixaram de satisfazer as “condições exigidas para a justificação”, de modo que o rebanho se recusasse a lutar pelos seus amos políticos? 
Se as igrejas encarassem as mesmas circunstâncias hoje como encararam sob os nazistas, crê honestamente que agiriam de modo diferente? Podem os católicos europeus e estadunidenses, para exemplificar, sentir-se seguros de crer que os milhões de católicos poloneses, húngaros e tchecos não atacariam seus irmãos na fé, caso haja um confronto entre o Leste e o Oeste? 
Ou o conceito mais realista é o expresso na revista católica, Mensageiro de S. Antônio, de que os sacerdotes e os ministros “geralmente transmitem a impressão de que abençoarão qualquer guerra ou aventura em que os líderes do estado decidam lançar-se”? — Maio de 1973, p. 21.
Ensina a igreja que a guerra é errada do ponto de vista religioso e cristão? Não. Ela continua se submetendo ás condições impostas pelos governos e "deixando livre" seu rebanho para fazer o que quiser.
 
Em contraste, Cristo Jesus, forneceu a seguinte regra do discipulado cristão: 
Nisto precisamente todos reconhecerão que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns pelos outros.” Também disse a um discípulo que procurava defendê-lo pela força — certamente uma causa “justa”: “Guarda a tua espada na bainha, pois todos os que pegarem da espada pela espada morrerão.” — João 13:35; Mateus 26:52, tradução do Pontifício Instituto Bíblico de Roma.
Assim, se lhe pedissem que identificasse aqueles que são verdadeiramente dignos de levar o nome de “cristãos” hoje, usando as diretrizes fornecidas pelo próprio Jesus, poderia honestamente selecionar qualquer das igrejas da cristandade? Quem tem, na realidade, demonstrado o sinal identificador do verdadeiro amor, estabelecido pelo próprio Cristo? Quem é que ‘não ama por palavras nem com a língua, mas por obras e em verdade? (1ª João 3:18, PIB).
Encontrando esse terá encontrado o verdadeiro cristão.



Fontes: Implícitas no texto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.