sábado, 20 de setembro de 2014

A Inquisição Católica

A Inquisição Católica
Objetos de tortura, usados durante a Inquisição existem aos milhares.
Alguns curiosamente se encontram ainda em Igrejas e outros foram removidos para
museus. São testemunhas mudas de um período de horror e intolerância religiosa
que não pode ser negado ou mesmo esquecido. Nem de longe são instrumentos cristãos,
Todavia foram usados como tal por uma instituição que diz tê-los usados "em nome de Deus".
É claro que foram usados em nome de "Deus", mas do Deus dela: o Diabo.

Prólogo
Início do século 13. Dizia-se que todo o sul da França estava infestado de hereges. O bispo local fracassara em suas tentativas de "desarraigar estas ervas daninhas da diocese", que se dizia ser exclusivamente católico. Julgou-se então necessário tomar medidas mais drásticas. Os representantes especiais do papa “na questão de heresia” entraram em campo. A Inquisição tinha chegado à cidade.
As raízes da Inquisição remontam aos séculos 11 e 12, quando vários grupos dissidentes começaram a surgir na Europa católica. Mas, a Inquisição propriamente dita foi inaugurada pelo Papa Lúcio III (foto), que reinou entre 1181 e 1185, no Sínodo de Verona, Itália, em 1184.
Em colaboração com o Imperador do Santo Império Romano, Frederico I Barba-Roxa, ele decretou que qualquer pessoa que falasse ou até pensasse em contrário da doutrina católica fosse excomungada pela Igreja e devidamente castigada pelas autoridades seculares. Instruiu-se os bispos a inquirir (do latim, inquírere) os hereges. Isto foi o início do que foi chamado de Inquisição Episcopal, isto é, situada sob a autoridade dos bispos católicos.
Estava começando um período terrível para a humanidade, onde milhões de homens, mulheres e crianças iriam perder a vida das maneiras mais horripilantes que se possa imaginar.


 O Início da Inquisição
No entanto, pelo visto, aos olhos de Roma, nem todos os bispos eram suficientemente zelosos para descobrir os dissidentes. De modo que vários papas sucessivos mandaram delegados papais que, com a ajuda de monges cistercienses, tinham o poder de realizar suas próprias “inquirições” da heresia. Assim, por certo tempo, houve duas Inquisições paralelas, chamadas Episcopal e Delegada, esta última sendo mais severa do que a anterior.
Nem mesmo esta Inquisição Delegada, mais dura, bastava para os papas. O Papa Inocêncio III, em 1209, lançou uma cruzada contra os hereges do sul da França. Estes eram, na maioria, cataristas.
Chamada de “guerra santa”, a cruzada contra os albigenses terminou em 1229, mas nem todos os dissidentes foram mortos. Assim, naquele mesmo ano, no Sínodo de Toulouse, no sul da França, o Papa Gregório IX (foto), que reinou entre 1227 e 1241, deu novo estímulo à Inquisição.
Fez arranjos para haver inquisidores permanentes, incluindo um sacerdote, em cada paróquia. Em 1231, o  Papa promulgou um decreto pelo qual os hereges impenitentes seriam sentenciados à morte pelo fogo, e os arrependidos seriam condenados à prisão perpétua.
Dois anos mais tarde, em 1233, Gregório IX liberou os bispos da responsabilidade de achar hereges. Estabeleceu a Inquisição Monástica, assim chamada porque ele nomeou monges como inquisidores oficiais. Estes eram escolhidos mormente dentre os membros da Ordem Dominicana, recém-formada, mas também de entre os franciscanos.

O Processo Inquisitorial
O processo inquisitorial começava de maneira bizarra.
Os inquisidores, monges dominicanos ou franciscanos, juntavam os habitantes locais nas igrejas. Eram convocados ali para confessar alguma heresia, caso fossem culpados dela, ou para denunciar quaisquer hereges que conhecessem. Mesmo se suspeitassem de que alguém era herege, deviam denunciar tal pessoa.
Qualquer um — homem, mulher, criança, ou escravo — podia acusar qualquer pessoa de heresia, sem receio de se ver confrontado com o acusado, ou de, mais tarde, temer que o acusado saber quem o havia denunciado.
Os acusados não dispunham de alguém para os defender, visto que qualquer advogado ou testemunha em seu favor seria, ele próprio, acusado de ajudar e encobrir um herege. Assim, os acusados em geral se apresentavam sozinhos diante dos inquisidores, que eram, a um só tempo, promotores e juízes.
Os acusados dispunham, no máximo, de um mês para confessarem. Quer confessassem, quer não, começava a “inquisição” (do latim, inquisitio). Os acusados eram mantidos sob custódia, muitos em solitária com pouca comida, o que os deixava fragilizados. Quando os cárceres do bispo, situados geralmente dentro das igrejas, estavam repletos de pessoas, usava-se a prisão civil. E quando estas também ficavam superlotadas, convertiam-se prédios velhos em prisões.
Uma vez que se presumia que os acusados eram culpados, antes mesmo de começar o julgamento, os inquisidores utilizavam quatro métodos para induzi-los a confessar sua heresia. Primeiro, a ameaça de morte na estaca. Segundo, o confinamento em grilhões numa cela escura, úmida e reduzidíssima para morrerem de inanição. Terceiro, alguns visitantes lhes aplicavam pressão psicológica. E, por último, a tortura, que incluía o cavalete, a roldana, ou estrapada, e a tortura pelo fogo. Os monges ficavam do lado dos torturados que eram geralmente ajudantes nas igrejas, esperando qualquer confissão. Havendo uma "confissão" ou não, a absolvição estava descartada.

As Penalidades da Inquisição
Não haviam absolvições. As sentenças eram declaradas aos domingos, na igreja ou numa praça pública, na presença dos clérigos.
Uma sentença leve, dadas a alguns que "confessavam" seria de penitências. Todavia, estas incluíam o uso obrigatório de uma cruz amarela de feltro costurada nas roupas, o que tornava quase impossível a obtenção de emprego. Geralmente os apenados "mais leves" acabavam nas ruas e morriam como mendigos e ninguém os ajudava, porque tinham medo de serem presos por "ajudarem hereges".
A maioria das sentenças, entretanto, havendo ou não "confissões", seriam de açoites públicos seguidos de prisão perpétua, ou de serem entregues às autoridades seculares para a morte na fogueira.
É preciso levar em conta que estas "autoridades seculares" eram exercidas, na maioria dos casos, pelos próprios clérigos inquisidores, de maneira que é hipocrisia dizer que quem matava eram as autoridades e não a Igreja.

Os Inquisidores era ladrões Insaciáveis
Quaisquer que fossem, as penas vinham acompanhadas do confisco dos bens da pessoa condenada, que eram divididos entre a Igreja e o Estado. Em muitos casos os bens das pessoas ficavam com os próprios inquisidores. Os membros restantes da família dos "hereges" sofriam tremendamente, pois, de repente eram todos jogados na rua. As casas dos "hereges", e dos que os haviam abrigado, eram derrubadas.
Também, gente já morta, denunciada como herege, era julgada postumamente. Se considerados culpados, seus corpos, se possível, eram exumados e queimados, e suas propriedades, agora pertencentes aos herdeiros, eram confiscadas

Esse era o processo geral seguido pela Inquisição medieval. Podia variar em violência ou maldade, dependendo da ocasião e do local, mas era sempre letal às vítimas.

Violência Crescente
É interessante que o que se sabe sobre a Inquisição é baseado na documentação da própria Igreja, que fazia questão de registrar, muitas vezes em pormenores, o que fazia.
Em 1252, por exemplo, o Papa Inocêncio IV publicou sua bula Ad exstirpanda, autorizando oficialmente o emprego da tortura nos tribunais eclesiásticos da Inquisição, como se isso fosse a coisa mais natural. Regulamentos adicionais sobre o modo de utilizar a tortura foram promulgados, mais tarde, como um "refinamento da tortura", pelos Papas Alexandre IV (1254-1261), Urbano IV (1261-1264) e Clemente IV (1265-1268).
De início, não se permitia que os inquisidores eclesiásticos estivessem presentes quando os torturadores (que eram pessoas da igreja) aplicavam a tortura. Porém os Papas Alexandre IV e Urbano IV removeram tal restrição. Isto permitia que a “inquirição” prosseguisse nas chamadas "câmara de torturas", situadas no interior das Igrejas.
Na autorização original, a tortura só deveria ser aplicada uma vez, mas os inquisidores papais conseguiram contornar a situação por pretenderem que outras sessões de tortura eram simples “prosseguimento” da primeira sessão. Assim não havia limites para o número de vezes para que uma única pessoa pudesse ser torturada.
Dentro em pouco, até as testemunhas ou os denunciantes estavam sendo torturadas, para "certificar-se de que tinham denunciado todos os hereges que conheciam". A violência não parou e, não importando se um acusado se confessasse "herege" ou não era torturado do mesmo jeito. Segundo explica The Catholic Encyclopedia (Enciclopédia Católica), isto visava “obrigá-lo a testemunhar contra seus amigos e comparsas”. — Volume VIII, página 32.

Arma Contra o Pensamento Humano
 O mecanismo inquisitorial foi acionado na primeira metade do século 13 EC, para conforme dizem alguns hoje, apenas para "reconverter os cátaros". Mas ela não parou quando os cátaros foram extintos. Perdurou por vários séculos e foi usada para esmagar qualquer pessoa que falasse, ou sequer pensasse, de modo diferente da Igreja Católica. Isso espalhou o terror por toda a Europa católica.
Quando, perto do fim do século 15, a Inquisição começou a abrandar na França e em outros países da Europa Ocidental e Central, ela reacendeu, com força total, na Espanha., onde, de forma triste, se destacou Tomás de Torquemada, um frade dominicano e cruel inquisidor.
A Inquisição Espanhola, alavancada pelo Papa Sisto IV, em 1478, foi inicialmente dirigida contra os marranos, ou judeus espanhóis, e os mouros, ou muçulmanos espanhóis. A Igreja suspeitava que muitos deles adotaram a fé católica por simples medo, mas que continuavam a praticar em secreto sua religião original. Assim, por causa dessa suspeita, qualquer pessoa, mesmo os mais devotados católicos podiam ser presos, torturados e mortos.
Foi por esta época que começaram a surgir os protestantes - sacerdotes católicos que passaram a não mais ver como cristão, o modo como agia a Igreja. A Inquisição passou então a ser utilizada como arma, não só contra os próprios católicos, mas também contra os protestantes.

Seis Séculos de Terror
Da Espanha e de Portugal, a Inquisição espalhou-se para as colônias destas duas monarquias católicas, na América Central e do Sul, e para outras partes. E teria continuado até hoje se Napoleão Bonaparte não tivesse invadido a Espanha, no começo do século 19.
A igreja até tentou restaurar a Inquisição, depois da queda de Napoleão. Mas o mundo pós Napoleão havia mudado muito. O povo já não estava mais disposto a viver em guerra permanente contra tudo e contra todos conforme pretendia a igreja. Assim a Inquisição foi finalmente suprimida em 1834. Curioso é que ela não foi oficialmente terminada até hoje. Ainda existe o tribunal da Inquisição no Vaticano, com o pomposo nome de Congregação para a Doutrina da Fé - um nome que não faz jus ao que afirma ser, pois ela não doutrinou a fé de ninguém. Apenas matou.


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